sábado, 31 de outubro de 2009

CRÓNICA PARA DIZER SEI LÁ O QUÊ…

Aproveito uns dias de folga, agarro na minha companheira e arrancamos para o campo em busca de tranquilidade, horários flexíveis e uma esperança de mar. Dia fabulosos para esta época do ano, uma “longboard”a protestar artroses de cera, dois pirolitos em águas quase mornas e sair de “fininho” antes de ter que chamar os paramédicos para me ressuscitar do afogamento de quarentão. Semana repleta de acontecimentos e estes ossos, mais esta paciência que já não os quer acompanhar. “Mais do mesmo. Sempre a mesma história. Nada a fazer” – dizem-me eles quando insisto em comprar o jornal, quando vejo que o portátil se recusa a arrancar. Fico nu no meio da praça sem a treta do computador. Sinto-me mal, vazio, vítima de comportamento aditivo não controlado. Em que é que nos tornámos ao fim de sucessivas revoluções de comunicações? Em “drogadinhos” de tecnologias e ermitas de contacto. Fechados nas nossas cavernas revestidas de milhares de pixels, LCD, twitter, online, Giga Mega bites, numa decoração barroca sem mundo, sem toque, quase sem vida.
Tomou posse o novo governo, saltou mais uma lista de suspeitos de corrupção tentacular, um puto vítima do caso Casa Pia publica as suas memórias. Está confuso, já não acredita que se faça justiça no tribunal. Quando percebeu que outras crianças eram também vítimas do motorista que o perseguia e abusava, teve emoções contraditórias. Uma delas foi sentir “ciúmes” por não ser o único, como a sua ingenuidade o fazia julgar. Entre vítima e exclusivo sai um livro, testemunho, memória, arrepio. No lugar onde os órfãos e os abandonados em geral deviam estar protegidos pelo Estado, afinal há rambóias para os senhores famosos e poderosos darem largas à sua taradice. Junta-se povão à volta da câmara da televisão, gritam todos ao mesmo tempo, empurram o locutor muito engomadinho de isenção e seriedade. – “Isto era agarrá-los…” sentenças rápidas ao ritmo das notícias dos telejornais.
O Colégio Militar, o Garcia Pereira aos gritos de indignação e o BE, o BE senhores, não têm mais nada para fazer? Andei lá nos anos 70 e há uma série de comportamentos e situações que só se podem ser compreendidas por quem viveu nesses mundos que estão longe da perfeição. Um gajo na SÁBADO, um meu contemporâneo, fala de coisas que eu nunca vi. Não justifico nada. Houve, isso vi eu, ajustes de contas com os mais velhos. Tudo em circuito fechado. Se há razões para procedimento criminal, investigue-se, julgue-se e faça-se sentença. Mas há demasiados cães a ladrar nesta história, demasiada vontade de deitar abaixo uma instituição de dois séculos de existência com código de conduta próprio, com excelentes pergaminhos pedagógicos por excelência. Agarraram um padre que tinha um enorme arsenal em casa, emprestava a juros e ia-se apropriando de imobiliário sem grande esforço. Faz-se um chinfrim à porta do Vaticano a pedir o seu encerramento?? Não me parece.
Literatura: Na mesma semana o “Maluco” e o “Velho” fazem saltar cá para fora mais um livro cada um. O primeiro encontrou Deus no silêncio da sua escrita, o segundo farta-se de usar o Seu nome para vender e para criar histórias. Um fala sozinho e diz que O descobriu, o outro diz que Ele não existe, embora não se canse de usar a sua ajuda. E nós levamos com tudo o que eles nos quiserem dar, porque vendem à brava e os editores estão a precisar de fazer uns trocos.
Volto para o romance que estou a escrever, canso-me e tenho medo de cansar os leitores. Abro um vinho reserva e asso castanhas. Dou dois pontapés no computador e consigo trazê-lo de volta à vida. Ligo a televisão. Paquistão, Afganistão, Iraque e bomba, bomba, bomba. Em nome de Deus, que o mesmo é dizer: em nome de quem lucra com o ódio e a intolerância dos outros. Será o mesmo Deus do Velho, ou do Maluco, ou do burgesso que gamava alegremente à sombra do Partido, ou do padre samurai, ou dos filmes do Vasco Granja? Parece que não, mas vai tudo dar ao mesmo. O jornalista engomadinho a esmagar-se contra a objectiva empurrado por populares enraivecidos, um bando de miúdos delirantes a colar macacos na cabeça do operador de câmara. – Isto era mas era agarrá-los… - Fantochada do tamanho do mundo, Vida, metade a tentar perceber, outra metade a tentar esquecer. Asilo de loucos, terra da confusão. Nem o empate do Porto me consegue aquecer. Volto ao romance, um pouco de hino (grita o António Silva na CANÇÃO DE LISBOA), haja alguma seriedade, quanto mais não seja gramatical, léxica, narrativa… E uma voz de velha que grita do fundo da assistência: “ Ó Ernestina, vamos embora que isto foi tudo uma vigarice..!”

Artur

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

INTERROGAÇÃO

Alguém é capaz de me explicar porque é que, da parte do grupo ( não tão pequeno como isso) das pessoas que estão contra a aplicação da vacina do virus H1N1 ninguém tem direito a aparecer nos meios de comunicação e expôr as suas razões? Alguém é capaz de me explicar porque é que só no segundo dia da campanha de vacinação no nosso país é que surge a notícia de que as autoridades norte-americanas de saúde pública não aprovam dois dos seus componentes? E porque é que que foi levantada a suspeita na Alemanha de que as vacinas admnistradas aos dirigentes governamentais e classe política em geral é diferente daquela que será admnistrada aos cidadãos comuns?
Tudo nesta história cheira muito mal desde a campanha de pânico instalada e difundida pelos orgãos de comunicação até à urgência da vacinação? O que é que se seguirá? A obrigatoriedade de tomar a vacina? ABRAM OS OLHOS!!!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

SER PORTUGUÊS

Teria imensa dificuldade se de repente me pedissem para definir o que é isso de ser português. No entanto, há logo à partida duas componentes que me ocorrem de imediato. A primeira é a de que ao ser português aprendi a lidar com duas das piores maleitas que podem assolar o ser humano: o medo e a ignorância. A segunda é a de que há apenas um país que se chama Terra, e uma raça que se chama Humanidade.
É uma sensação fantástica viajar uma noite inteira de avião e chegar de manhã cedo ao outro lado do mundo, sair e ouvir alguém que lá mora dar-nos os bons dias em português. Se não for pela paisagem, pela arquitectura ou mesmo pelo contraste climatérico, dir-se-ia que aquela longa viagem não passou de uma noitada nas ruas da mesma cidade. O português, mais do que se confinar a um território a uma religião ou a uma espécie exclusiva de povo, é acima de tudo, uma maneira de sentir, um estado de espírito por excelência. Antes de sermos portugueses fomos o palco por onde passou quase todo o tipo de povos da Antiguidade. Passaram, foram ficando e misturando-se entre eles, daí termos hoje o DNA mais completo da espécie. Começámos a produzir vinho ainda antes das invasões romanas. Quando chegou a nossa vez de ter um nome (Portugal) já a universalidade estava inscrita nos nossos cromossomas. Não somos campeões da coragem mas sabemos lidar com o medo. Como? Exorcizando-o nas nossas tradições mais antigas. Continuamos a ser o único povo do mundo que enfrenta o touro de caras, dentro de um espectáculo que mais não é do que um ritual de morte. Trabalhamos o medo na tradição da nossa canção mais emblemática: o Fado. Cantamos a tragédia, a desgraça, o amor contrariado, a tristeza, etc. Mas enquanto cantamos o fado, encharcamo-nos de vinho, choramos a desgraça daqueles que nem sequer conhecemos. Ou seja, em relação à inevitabilidade das coisas más que a vida nos dá sempre, ensaiamos a tristeza a um ponto de controlar o nosso próprio medo. Talvez por isso sejamos o único povo que conta anedotas em velórios, não havendo nisso nenhum desrespeito para o morto. Não deixamos de ter medo, conseguimos é que ele não nos amedronte a nós. E, inevitavelmente associado ao medo, temos a ignorância. Só podemos temer aquilo que desconhecemos. Por isso arrancámos pelo mar fora, demos uma tareia no Adamastor e, principalmente, abrimos as estradas de comunicação no planeta, permitindo a entrada numa nova era, numa nova etapa da Humanidade. As Descobertas foram um marco de tal forma importante na história da Humanidade que um historiador americano (logo, insuspeito), não hesitou em definir a façanha como a mais importante a seguir à invenção da roda.
Mas como toda a gente que se prepara diariamente para dominar o medo, acabamos por ser arrogantes, desleixados, indisciplinados. Em tudo menos no humanismo, na atitude e respeito que sempre tivemos fora do rectângulo europeu.
Deixemo-nos de histórias. Não queremos ser melhores nem piores que ninguém. Somos até mesmo especialistas em auto-crítica. Mas não somos menos que os outros. Pessoalmente adoro o Brasil, a sua cultura, a sua simpatia e a sua política de nunca nos ter fechado a porta sempre que lhes pedimos ajuda. Sou angolano de nascimento, num tempo em que Angola era território português. Se uma vez por outra pegássemos num ou noutro romance de um destes países, para alem de Cabo Verde, Moçambique, etc, de certeza que encontraríamos mais alguma coisa do que a evidência da língua comum. Encontramos uma sensibilidade, uma forma muito humana de estar com a vida, com as plantas e com os animais.
Não foi por acaso que os brasileiros descobriram o Fernando Pessoa e se entusiasmaram com os seus poemas antes de lhe ser dada a devida atenção em Portugal. Não foi por acaso que os portugueses se renderam incondicionalmente aos livros de Jorge Amado ou à MPB. Foi apenas pela simples razão que estamos a falar de elementos da mesma família. Que brigam entre si, que se abraçam, que se amam. Que fazem da primeira tentativa de consciencialização do conceito de Aldeia Global uma realidade em crescente aperfeiçoamento.

Artur

MAITÊ II

Ofensas aos portugueses: Maitê Proença apenas repetiu a mídia

Vale a pena ler esta análise política e social que explica muita coisa!

14/10/2009
Ofensas aos portugueses: Maitê Proença apenas repetiu a mídia
Em uma matéria exibida no programa Saia Justa (GNT/Globo), a atriz Maitê Proença cometeu uma série de grosserias contra os portugueses. Para o colunista Clóvis Rossi, da Folha de São Paulo, seria algo normal, fruto do preconceito que brasileiros e portugueses sentem uns dos outros. A atriz não expressou, na verdade, um preconceito que nasceu não se sabe de onde, mas sim vários conceitos alimentados pela mídia brasileira. Um processo de permanente negação das origens, de desprezo pelo nosso passado, que sempre quis nos ensinar a odiar ter sido colônia de Portugal e não da Inglaterra. O artigo é de Rogério Mattos Costa.

Rogério Mattos Costa, de Madri
Data: 14/10/2009
As grosserias de Maitê Proença, exibidas no programa Saia Justa (GNT/Globo) foram algo absolutamente normal. Essa é a conclusão a que chega Clóvis Rossi, da Folha de São Paulo, para quem, tudo seria culpa do preconceito que brasileiros e portugueses sentem uns dos outros, espontaneamente.

Permita-me discordar, meu caro Clóvis.

Maitê não expressou um preconceito que nasceu não se sabe de onde, mas vários conceitos criados pela mídia brasileira (veja o vídeo).

Ela apenas colocou no vídeo toda lavagem cerebral a que quase toda a população brasileira é submetida há várias décadas, desde a escola primária até quando lê um artigo seu e de outros colegas seus que ainda escrevem para a Folha e outros jornais do gênero.

Um processo orquestrado, coordenado, de permanente negação das origens, de ataque à auto-estima, de desprezo pelo nosso passado, que em outras palavras, nos quis sempre ensinar a odiar ter sido colônia de Portugal e não da Inglaterra.

Para quê?

Ora, para nos fazer aceitar, mais fácil, sermos um tipo de colônia dos Estados Unidos, que “teria tido mais sorte” em ter sido colonizado pela Inglaterra, mas que agora poderíamos “imitar”, sendo colônia da colônia dela!

Um processo que consiste em falar mal o dia inteiro, do Brasil, pela boca de centenas de “jornalistas” e “colonistas” regiamente pagos por prêmios, concursos e convênios de universidades americanas com seus jornais de origem.

Um processo que nos leva a odiar ter nomes como Ferreira, Lobo, Oliveira e não Smith, Lee ou Carter.

A não valorizar nosso próprio país, nossos costumes, nossos heróis, nossa língua, nossa forma calorosa e afetiva de tratar o diferente e principalmente, ao estrangeiro.

Um processo de lavagem cerebral que nos ensina a principalmente, a odiar a verdadeira mistura de raças que é o Brasil, apontando-a inclusive, como a fonte de nossa desgraça. Quando o mundo inteiro saúda e reconhece com enorme vantagem competitiva do Brasil.

Maitê nada mais fez do que, em público e ao vivo, repetir aquilo que não só as suas decadentes colegas de programa na Globo, mas mesmo nossas vetustas mestras, coitadas, já tinham que nos dizer, desde que éramos pequenos: ser descendentes de Portugal é a fonte de todos os nossos males.

Fruto da dominação cultural e ideológica a que sempre esteve submetido o Brasil, que Nelson Rodrigues tão bem chamou de “complexo de vira-lata”, aprendemos entre uma lição de Historia e outra que todo nosso atraso vem do fato de termos sido colonizados por portugueses “criminosos, degredados, siflíticos, assassinos” .

Enquanto isso, para os Estados Unidos, segundo nossos livros didáticos, teriam sido mandados piedosos “protestantes perseguidos em seu país”, todos “peregrinos religiosos”do Mayflower, que confraternizaram no dia de ação de graças comendo um peru presenteado por seus amigos índios, com quem se davam maravilhosamente bem.

Segundo essa surrada tese racista, seria do próprio povo e não da elite brasileira, a culpa dos 502 anos de desgoverno em que essa elite governou sozinha, como quis. Mandando até naquilo que nossas crianças, como eu e a Maitê já fomos um dia, iriam aprender na escola.

Daria assunto para muitos artigos desmentir todas essas teses racistas, anti-brasileiras, mas vou tentar desmentir pelo menos duas delas.

A mais importante delas é que se Brasil e Estados Unidos foram descobertos quase na mesma época, porque razão o Brasil é assim e os Estados Unidos são a maior potência da Terra que já existiu?

Eles gostam de explicar que isso se deve a que os Estados Unidos foram colônia da “Old Albion”, da gloriosa Inglaterra, composta unicamente de orgulhosos anglo-saxões, uma “raça pura” enquanto que nós, ora fomos apenas um quintal mal explorado e bagunçado de um reinozinho de segunda, plantado na ponta da Europa, que já era uma mistura de godos, visigodos, suevos, árabes, romanos, lusitanos, etc...

Vamos aos fatos.

Abra o Google e coloque as palavras entre aspas “english pirate” e anote o numero de verbetes que irá localizar. Eu encontrei 65.440 páginas. Agora coloque “american pirate” e verá 78.900 páginas. Tecle “portuguese pirate”. Eu encontrei 13.800 verbetes. O que isso significa? Quase nada? Significa apenas, amigos leitores, que nossa “História”não conta mas o processo de acumulação pré-capitalista que permitiu à Inglaterra e Estados Unidos acumularem riquezas para construir uma marinha mercante e de guerra que lhe permitisse a supremacia dos mares, foi construída e acumulada, em grande parte, pela repugnante atividade da PIRATARIA, principalmente contra navios portugueses e espanhóis.

E inglês? Você lembra de quem era “Sir” Francis Drake, The Queen’s Pirate?

A pirataria nos Estados Unidos e Inglaterra era tão comum que a própria rainha Elizabeth I tinha-o como seu próprio pirata para roubar e matar por ela. Isso também está nos livros. Mas nossas escolas e professoras não contam. Até hoje.

Aos que duvidarem faço um desafio: digam o nome de um único pirata português. Não vão encontrar. Pode ser até que tenham existido. Mas eram perseguidos e capturados pelo estado português e não nomeados como cavalheiros , ou “Sir”, como foi Drake , um verdadeiro monstro de crueldade, nomeado pela própria rainha da Inglaterra, que o contratou.

Vamos à outra grande mentira: a Inglaterra era a salvadora dos negros escravos, que os odiosos portugueses comercializavam.

Novamente vamos aos fatos. Ao Google novamente.

Escrevam lá : “irish slavery” e verão 16.800 verbetes.

Se explorarem um pouco as páginas que abrir-se-ão diante de seu solhos, vão saber de algo que nunca foi dito em nenhum livro de historia brasileiro: os ingleses não só foram os que iniciaram o tráfego de escravos da África para a América do Norte e do Sul, mas foram os ingleses que iniciaram o tráfego de brancos.

Já por volta de 1640, por ordem do rei e depois de Cromwell, o ditador da república inglesa, foram expulsos de suas casas, aprisionados e vendidos como escravos mais de 330.000 irlandeses, homens, mulheres e crianças.

Ainda em 1800, enquanto os ingleses “patrulhavam as águas do Brasil, à busca de libertar escravos”, na Irlanda, meninas e moças eram aprisionadas em casa e vendidas como escravas no norte da África, por mercadores apoiados pelas tropas britânicas.

Ou seja, a riqueza da Inglaterra também veio de roubar a terra, as plantações, as casas, as estradas, pontes, igrejas, castelos da Irlanda e vender seus homens, mulheres e crianças para fazendeiros, amigos de piratas, ou eles próprios piratas, estabelecidos como nobres no “Novo Mundo Inglês”.

Duvidam? Experimentem clicar: why is irish slavery is never talked about.

Maitê Proença não é culpada das grosserias e baixarias que cometeu. Ela é apenas mais uma vítima das elites intelectuais do Brasil e da mídia que a serve-utiliza cujo único objetivo é manter-nos eternamente com a “moral baixa”.

Uma mídia que deseja que não saibamos o grande país que temos, o excelente conceito que nossos técnicos, profissionais, empresas, artistas, escritores, cientistas têm lá fora.

Uma mídia mais do que racista: anglófila e americanófila, que detesta não só tudo que seja português, mas que tenha qualquer origem latina.

Para quê isso? Ora para dominar-nos mais facilmente, explicando por nossa origem de sangue nossas desigualdades sociais e não pelo domínio de uma elite má, egoísta, cheia de soberba e politicamente mesquinha e atrasada.

Num outro artigo volto ao tema para mostrar, com endereços de pesquisa na web, mais verdades que nos tem sido encobertas nos últimos 502 anos.

Aproveitem e pesquisem bem as dicas que deixei acima.

Vocês irão ter um baita susto, garanto.

Ainda bem que agora existem essas ferramentas de busca! Aproveitem meninos e meninas!

Não deixem a mídia golpista fazer com vocês o que fez com a Maitê Proença!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

É O QUÊ??

" O Brasil é Portugal à solta...", disse Agostinho da Silva
"Portugal é o Brasil com "classe", Disse um amigo meu brasileiro a primeira vez que visitou Portugal.
Maitê é o quê no meio de séculos de cooperação, descoberta, respeito, solidariedade, laços familiares, amizades, culturas paralelas, admiração, Língua comum, entendimento, etc, etc,etc.?? Uma minúscula melga suja, esborrachada de rancor num imenso arranha-céus envidraçado acabado de limpar...

sábado, 17 de outubro de 2009

BOHEMIAN RAPSODY

Is this the real life-
Is this just fantasy-
Caught in a landslide-
No escape from reality-
Open your eyes
Look up to the skies and see-
Im just a poor boy,i need no sympathy-
Because Im easy come,easy go,
A little high,little low,
Anyway the wind blows,doesnt really matter to me,
To me

Mama,just killed a man,
Put a gun against his head,
Pulled my trigger,now hes dead,
Mama,life had just begun,
But now Ive gone and thrown it all away-
Mama ooo,
Didnt mean to make you cry-
If Im not back again this time tomorrow-
Carry on,carry on,as if nothing really matters-

Too late,my time has come,
Sends shivers down my spine-
Bodys aching all the time,
Goodbye everybody-Ive got to go-
Gotta leave you all behind and face the truth-
Mama ooo- (any way the wind blows)
I dont want to die,
I sometimes wish Id never been born at all-

I see a little silhouetto of a man,
Scaramouche,scaramouche will you do the fandango-
Thunderbolt and lightning-very very frightening me-
Galileo,galileo,
Galileo galileo
Galileo figaro-magnifico-
But Im just a poor boy and nobody loves me-
Hes just a poor boy from a poor family-
Spare him his life from this monstrosity-
Easy come easy go-,will you let me go-
Bismillah! no-,we will not let you go-let him go-
Bismillah! we will not let you go-let him go
Bismillah! we will not let you go-let me go
Will not let you go-let me go
Will not let you go let me go
No,no,no,no,no,no,no-
Mama mia,mama mia,mama mia let me go-
Beelzebub has a devil put aside for me,for me,for me-

So you think you can stone me and spit in my eye-
So you think you can love me and leave me to die-
Oh baby-cant do this to me baby-
Just gotta get out-just gotta get right outta here-

Nothing really matters,
Anyone can see,
Nothing really matters-,nothing really matters to me,

Any way the wind blows....

Words and music by Freddy Mercury

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O NASCER DE UMA IDEIA


Normalmente começa assim: a ideia para um filme surge no horizonte como um bando de andorinhas completamente endiabradas que voam em todas as direcções. A agitação mental acompanha-nos em hora de insónia. Todas querem dizer alguma coisa mas fala tudo ao mesmo tempo. Uma algazarra própria dos arautos da Primavera que nos quer explicar tudo até ao Outono num único piar. Nessa altura não há nada a fazer a não ser observar, estar atento às trajectórias de voo, esperar que se cansem. Depois, uma a seguir à outra, cansam-se. Vão aterrando em movimentos graciosos de descida até ficarem todas no chão. Inquietas, levam ainda algum tempo até parar. Depois a primeira cena, o primeiro personagem, a primeira cena. Observo o desenho que elas formam no chão e começo a ter um vislumbre da direcção para onde quero ir. O filme gira em torno de uma banda composta por pessoas de várias idades. Assim que percebem que li o primeiro desenho formado no chão a algazarra regressa. Descolam tresloucadas a piar que nem umas malucas. Sobrevoam o mesmo espaço por cima da minha cabeça a piar de alegria. No voo adivinho linhas, antecipo trajectórias. Percebo que o filme vai juntar pessoas que têm em comum o amor à arte e a habituação à frustração. Cada um com o seu tipo de amor, cada um com a sua história, cada um com a sua maneira de conviver com o infortúnio. É na Música que todas as pontes se abrem e todas as existências se compreendem.
Um filme sobre a Amizade, a Arte, o Amor. Um filme de experiências diferentes, de conflitos, de leituras da História através da história de cada um. Um filme…um filme…um filme. A urgência de filmar, de contar, de dizer, de juntar um grupo de amigos e tentar fazer um momento, um registo. Um bando de andorinhas ruidosas a começar a ocupar os seus lugares e a voar em formação. Uma esquadrilha pronta para iniciar a missão. Um filme…a urgência de criar.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

CAMINHOS







(Fotos de Sofia P. Coelho)
Os caminhos estendem-se serpenteados chamando o movimento das pernas, convidando, fazendo sinal para os seguir. Trilhos poeirentos de gravilha inconveniente, pedras justapostas de graciosidade, alas de floresta acolhedora. Os caminhos mostram-nos a direcção e o risco de escolher nas suas encruzilhadas. A nós, viajantes eternos da vontade, corajosos andarilhos das escolhas, vagabundos de acertar. É o caminho que interessa percorrer, a condenação de não poder parar e andar para a frente, sempre, sem destino. Por montes e vales, empedrados e alcatrão, caminhar.
É quando os nossos caminhos se encontram que temos razões de celebrar.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

OLD



Old have memories to keep all cold away.
What is that you say?
No sense to dwell.
Old, are you ridiculed and fumed away,
No attention paid?
I thought as much. Yes and the dumb patriots have their say,
Only see their way.
Nothing to sell.
And worse from us, so obvious,
Preposterous, when you think of the time that each has spent.
Words heaven sent and truly meant to show
Old, may I sit down here and learn today?
I'll hear all you say.
I won't go away.

Dexys Midnight Runners


Quando chega o Outono, parece que a nostalgia é maior. Talvez porque a neblina se entretém a decorar as manhãs com um fumo líquido que nos transporta de um tempo em linha para as terras em que o tempo é só um. Um lugar onde o Presente e o Passado se encontram à mesma mesa a confraternizar, a contar anedotas, ou seja, a contar a nossa existência.
Recordar mantém o frio à distância, como se pode ler no poema. Uma canção de um álbum ouvido até à exaustão, até ter tantos riscos que o silenciassem para sempre. Ou transportá-lo para aquela nova invenção que se chamava cassette (K7). Havia um disco…havia sempre um disco e um tubo de escape a rugir pela estrada de Sintra com dois macacos em cima. Mas a “Old” era a faixa menos gasta. Havia o “Come On Eillen”, o “Plan B”, “The Celtic Soul Brothers”ou uma série de gritos musicados em forma de rebeldia. E livros espalhados pela sala que nos começavam a abrir portas para este mundo, este bidé de país. Naquelas tardes melancólicas antes do começo das aulas o tempo estava parado, era só um como agora. Habitávamos o mundo mas não queríamos saber dele. Percebíamos a vida mas isso não nos trazia felicidade.
O tempo parava numa estrada escura rasgada por um farol solitário da Gillera 50, da Praia das Maçãs até Colares, de Colares até Sintra.
Antes de começar as aulas havia sempre aquela pequena pausa de uma semana, antes de regressar a mundo. E os livros ensinavam, fascinavam, mas também avisavam. O que aí vinha não tinha piada nenhuma. Era um caminho de pedras, impróprio para uma motorizada elegante de 50cc. Com dois macacos em cima a fingir alegria. O caminho era um jogo em que se perdia sempre, ou quase sempre. Talvez uma vitória ocasional aqui e ali, pontos dispersos no campeonato de um universo azul-escuro.
A serra anoitecia debaixo de um manto húmido, era sempre assim. Como uma velha senhora que coloca esmeradamente a sua touca de nuvens antes de ir dormir. Mas o tempo deixava de ser. No sonho as visitas inesperadas surgiam dos livros. Um Eurico que perdeu tudo menos a honra, por não quebrar o seu juramento com o Mais Velho. Um Estrangeiro chamado Mérsault que se precipitava para o cadafalso por ter despejado o revólver num árabe na praia e que reclamava a sua partida desta condição absurda. Um Gatsby contava-nos a história de um engano e de como perdeu a vida por amor, por uma tonta de uma mulher que nunca o mereceu. Vinham-nos avisar de como seria e ao mesmo tempo oferecer a sua solidariedade. “Tocou-nos a nós, agora vai tocar-vos a vocês. Não se assustem…é mesmo assim.”
E seguiu-se esse romance amargo a que chamam “vida”, com algumas breves passagens de alegria pelo meio. Precisamente aquelas em que conseguimos parar o tempo por instantes e ficar no vazio, suspenso, anoitecer sobre a serra que adormece como uma velha senhora orgulhosa da sua touca feita de nuvens.
Agora são os ossos que nos contam histórias nestes dias de humidade. É o tempo que às vezes se consegue parar para recordar, uma Gillera amarela de cinco velocidades que rasga a noite com um só farol e nos trás memórias de quando tudo era possível mesmo quando nada valia apena.
Artur

terça-feira, 6 de outubro de 2009

ANIVERSÁRIO


Parece que no passado dia 22 de Setembro este blog comemorou o dia do seu 2º aniversário. Como os responsáveis por este espaço têm vários problemas de saúde (mental e física), tudo indica que naquele dia estavam todos internados a receber electrochoques, ou a estagiar dentro de um sarcófago, ou em delírio num corredor esquecido de uma biblioteca municipal.
A todos os nossos visitantes, leitores e ao corpo clínico que nos proporciona períodos de alta para conseguir construír este espaço, os nossos agradecimentos. Artur, Sofia, Arnaldo e João

U OMÃI QE DAVA PULUS






“U omãi qe dava pulus era 1 omãi
Qe dava pulus grades. El pulô tantu
Qe saiu pêlo tôpu.”



Esta é a natureza dos homens. Aquela que os faz nascer todos diferentes, incluindo os que cedo descobrem a arte do salto. Uma vez encontrada a mecânica do impulso, tendem a ampliá-la gradualmente. Muitas vezes acabam por sair pelo “tôpu”.
Publicado pela primeira vez em 1969, “A Noite e o Riso” resulta da composição de várias tentativas estilísticas, onde os elementos literários funcionam enquanto contributos para a construção de uma modernidade possível na literatura portuguesa das décadas de 50 e 60 do século passado. Nuno Bragança, o seu autor, é como que o paradigma dessa época em que tradição e inovação insatisfeita se balancearam, num pano de fundo de impossibilidade criativa quase absoluta.
Tudo começa com uma frase de ortografia própria de um recém-chegado às leis da escrita. Logo aí, para além da gargalhada que provoca, está aberto o caminho para um grupo de sinais do que virá a seguir. Um nítido sintoma de inquietude, próprio de quem salta. E quem salta cresce, e quem cresce aprende. Crescimento e aprendizagem serão pois os elementos mais importantes na essência do romance.
Numa primeira fase assistimos à apresentação e contestação dos valores vigentes. Família, Colégio, Religião e Justiça, são as estruturas estabelecidas no momento do parto da consciência. A estes aparelhos ideológicos sucederão, por oposição, a descoberta dos segredos resvalantes (como os corpos resvalam), a inquietante arte de escrever, a provocação dos mestres.
Depois a prosa segue de forma fragmentada, estabelecendo-se um percurso narrativo que, não sendo nem linear nem circular, antes parece uma sucessão de abordagens falhadas num mesmo objectivo perdido. A sucessão de pequenas histórias (fábulas?), onde narrador e coisa narrada (ou “Eu”), se cruzam várias vezes, adquire nitidez à medida que se concentra sobre dois eixos principais: a Mulher e a relação do “Eu” com o meio, o seu país. No primeiro caso é o “Eu” que se vai construindo com a descoberta do “outro” feminino. A exterioridade do mundo da fêmea e a passagem da fronteira para o lado de lá, representam mais uma fase decisiva de crescimento. A “rapariga do canavial” Luísa Estrela e Zana, são como que a consciencialização de que o “Eu” não pode subsistir enquanto entidade isolada. No último bloco, Zana será a personificação de uma globalidade feminina, mais conhecida e mais admirada. De referir ainda a passagem de Luísa Estrela, uma das mais bem conseguidas, onde a brutalidade do real não consegue dispensar uma metafísica do humano. Talvez Fellini em LA STRADA, talvez Pasolini num dos seus melhores momentos.
Em pano de fundo um país adormecido onde a vida se procura desesperadamente no fim de uma garrafa, nas profissionais do amor, na marginalidade urbana. Transferência de escalão social e viagem do centro da cidade para a periferia suburbana, a inevitável mudança de valores e códigos é mais uma mudança de cenário do que um processo aquisitivo de referências. Como se o “Eu” a tudo assistisse tomando as suas notas, registando as suas experiências. Filho de lado nenhum, o seu trajecto decorre por entre um país de saloios, consciência ampliada quando se está lá fora. No meio de tudo isto, a vontade inexorável da escrita, um impulso irreprimível de fazer da vida coisa narrada. Escrever registando os outros, procurando o “Eu”. No dizer do autor: “ O escritor português do século vinte, segunda metade, deve saber mergulhar na tradição e logo de seguida regressar à superfície vivo.”
O processo narrativo vai-se construindo através de repetições, rupturas, saltos e regressões de diversas formas de movimento.
Embora com pouca divulgação junto do grande público, a obra de Nuno Bragança marca um ponto fundamental de viragem na literatura portuguesa, influenciando as gerações de autores que se lhe seguiram. Com influências do Surrealismo e de parte da literatura americana dos anos 40 (Faulkner e Hemingway), Nuno Bragança, juntamente com Luís de Sttau Monteiro e Vergílio Ferreira, marca a geração que deu à literatura portuguesa a frescura de um novo romance escrito na viagem às profundezas da tradição. A descoberta do desencanto do país que somos (o “não ser” que nos é tão familiar) só será redimível através da lucidez do riso.
“A lucidez do riso face ao absurdo é talvez o grande passo em frente da cultura contemporânea, a invenção da técnica de “parir sem dor” um mundo novo.”
Ou morrer a tentá-lo um pouco todos os dias.

Artur

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

FUMO NA CARA


BLUE IN THE FACE

Wayne Wang/ Paul Auster

EUA, 1995

No bairro de Brooklyn em Nova Iorque, a loja de tabaco de Auggie Wren, fotógrafo amador, é como que um oásis no deserto de cimento, onde se pode encontrar um pouco daquele sentido de pertencer a algum lugar. Um aviso ao estilo de memorando para que nas grandes cidades não se perca de vista o atractivo dos pequenos espaços à escala do homem, sob pena de se tornarem invisíveis.
Pegando nas sobras do que não se aproveitou em SMOKE (FUMO), a dupla Wang/ Auster acabou por alcançar um compromisso com a Miramax para rodar em seis dias BLUE IN THE FACE. Composto por cenas que não ultrapassam os dez minutos, é a improvisação e a espontaneidade que dita o trabalho dos actores neste regresso ao mundo da Brooklyn Cigar Company. Os actores de SMOKE aparecem agora mais distantes dos seus papéis, mais longe das exigências de uma estrutura narrativa convencional. A improvisação e o ambiente mais descontraído acabam por retratar de forma natural o bairro de Brooklyn ao nível da sua diversidade urbana histórica e mítica. Daí as imagens de arquivo dos dias áureos dos “Brooklyn Dodgers” e o triste dia da demolição do seu estádio. A fantasia e a nostalgia encontram-se na visita do fantasma de Jackie Robinson a Vinnie, para o convencer a não fechar a tabacaria em nome da comunidade.
Se em SMOKE o tema do bairro e da comunidade era tratado pela via emocional, da família e dos amigos, em BLUE IN THE FACE o que se retrata é o bairro enquanto ser individual na imensidão do seu espaço vivido, na urgência da sua não extinção. Daí a complementaridade das duas obras não ser de estranhar.
Tudo se resume pois, numa homenagem à filosofia de bairro e num alerta para a descaracterização desse tipo privilegiado de espaço dentro das grandes metrópoles urbanas. O bairro, reservatório de vivência, afectividade, comunhão, encontro e reunião dos seus habitantes, é provavelmente o último reduto da solidariedade comunitária nas grandes cidades.

Artur

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A JOGAR FORA


AWAYDAYS

Pat Holden

Reino Unido, 2009


Comboios, estações de comboios, corredores de tijolo estreitos, corridas ofegantes, confrontos inevitáveis, becos sem saída. No início da década de 80, o Punk saía de cena e Margaret Thatcher dava início a um período de desvario neo –liberal que se traduziu, entre outras coisas, em sucessivas vagas de descaracterização e enfraquecimento do tecido social britânico. Menos trabalho, menos serviços públicos, menos vida. Nesta encruzilhada do tempo, neste aparente vazio de modas, os jovens adolescentes vêem-se completamente isolados do mundo, sem dinheiro, sem trabalho e sem rumo.
Baseado no bestseller com o mesmo título, da autoria de Kevin Sampson, AWAYDAYS é a história desses tempos incertos contada na pessoa de Paul Carty, um jovem de 19 anos que ficou sem mãe há pouco tempo e cujos únicos interesses na vida são o futebol e a musica. É quando conhece Elvis que tudo muda. Pela mão dele vai entrar num grupo intitulado “The Pack”, adeptos do Tranmere Rovers. E apesar de Carty nunca sentir como muito fortes as suas identificações com o grupo, a amizade com Elvis reforça-se em cada dia, em cada semelhança de gostos, em cada campo de batalha.
Filmado na Península de Wirral, Noroeste de Inglaterra, o filme apresenta-nos essencialmente um tempo de vácuo e ausência de rumo sobre uma geração de jovens sem perspectivas em relação ao futuro, enquadrado numa paisagem industrial fria e impessoal. Apesar da importância das cenas de violência, o filme espalha-se para muito mais áreas como a da moda e da música, elementos distintos de identidade e prestígio dentro dos grupos. Entre Carty e Elvis há mesmo uma relação de cariz homo-erótico que contrasta com o pendor violento e masculinizado, próprio deste tipo de ambientes. Aliás, o maior trunfo deste filme é uma excelente banda sonora composta por bandas da época baseada em nomes como “Joy Division”, “Ultravox”, “The Cure”, Lou Reed, “The Rascals”, “Echo & The Bunnymen”, etc. Por outro lado, a atenção dada à moda entre os bandos e à forma como ela era exibida, é também reveladora das tendências da época.
Nascido em Liverpool, Sampson foi tudo isto enquanto jovem. A sua experiência pessoal levou-o a escrever o livro em que o filme se baseia, tentando desse modo ser fiel ao registo desse tempo para a posteridade. Numa época de vazio, exclusão e incerteza a tensão social acumula-se e a marginalidade abre-se como um caminho natural para os jovens. As drogas, o sexo fortuito, a violência, a moda e a música são como que os ritos da religião dos esquecidos, “dos esvaziados de futuro”.
Não se tratando de um filme extraordinário, também não há razão nenhuma, no meu entender, para merecer as críticas arrasadoras que levou até aqui. Por várias razões. Primeiro, porque sendo um filme sobre o fenómeno do hooliganismo, depressa ultrapassa os seus limites ao centrar-se nas relações de amizade, em alguma (breve) análise sociológica, ao se apoiar numa extraordinária banda sonora. Em segundo lugar, quando se aborda aquela época, e assumidamente, um tempo ausente de esperança, futuro, e qualidade de vida, cai-se forçosamente num abismo de vazio, num quotidiano sem amanhã. E nesses casos, a uma realidade vazia e fragmentada, corresponde forçosamente uma recriação vazia e fragmentada. Sem grandes continuidades, respostas, conclusões ou ligações entre o que quer que seja. E essa é a identidade do filme.
Para quem foi jovem na década de 80, este filme é para si…