segunda-feira, 31 de maio de 2010

FONZIE


Vieram à ultima da hora para substituír os Sum 41. Tocaram no Rock In Rio antes dos Xutos. Não conhecia o som deles. Fiquei a adorar. Força FONZIE. O Rock´vive para sempre...

domingo, 30 de maio de 2010

ESCOLA SECUNDÁRIA Dr. Francisco Fernandes em Olhão



É bom ser jovem, é bom andar na escola, e é bom construír este pequeno/ grande testemunho de Vida. Reparem na perícia de um plano que dura cerca de 3, 4 minutos sem cortes nem montagem. Os meus parabéns a esta malta, aos professores e à imaginação. Vejam o video e...atirem-se ao mar.

sábado, 29 de maio de 2010

UM DESTES DIAS

Um destes dias a vida vai-se encarregar de decidir o caminho dela e seguirá em direcção à morte. Vai ignorar as hesitações mastigadas, os vazios da conveniência e os compassos de espera. Sentar-se-á comodamente aos comandos do destino e acertará instrumentos de navegação, rumo e velocidade tal e qual um experiente comandante de alto-mar. Olhará para mim por cima do ombro, em pé na ponte de comando, e dirá por entre os bafos do cachimbo e a nuvem branca das barbas: “acabou-se a brincadeira, rapaz. Agora é comigo”. Não vou fazer birra, muito menos implorar seja lá o que for. Sei que lá num fundo qualquer de mim este momento sempre existiu. Limitou-se a acordar.
Um destes dias os meus passos deixarão de me responder e ganharão vontade própria, provavelmente a caminho de tua casa para te dizer qualquer coisa. Vão ignorar hesitações, considerandos, pruridos, compassos de espera e vão acelerar a marcha numa única direcção. Para acabar o que ficou por fazer, para te dizer o que escondi ou não tive tempo de … Os meus passos vão virar-se para mim e dizer enquanto aceleram: “Acabou-se a brincadeira, rapaz”. E enquanto sigo rebocado pela vontade deles vou imaginando, vou inventando desculpas para te aparecer à frente assim, sem mais nem menos.
Um destes dias o meu ego vai encarregar-se de mim e correr com a generosidade pela porta fora. Vai ganhar vontade própria, ser egoísta e mandar tudo para a “puta que os pariu”. Cá fora vai deixar um letreiro “Fechado Para Obras. Estou-me Cagando para a Vossa Compreensão”. Vai assumir que entre ajudar e amar os outros e ajudar o EU há um equilíbrio terrível de suster. Uma fronteira de contornos mal definidos em que a vontade de agradar escorrega muitas vezes para o buraco do abuso, para o abismo em que nos esquecemos de SER. Dirá : “Acabou-se a brincadeira, rapaz.” E com isso passará a obras de restauro que mais não são do que uma artificiosa instalação de um sistema de defesa. Um alarme que avisa quando eu já deixei de ser eu. Um circuito interno de vigilância para que perceba que o mundo não foi feito para ser salvo nem as pessoas se libertam se não se quiserem libertar.
Um dia destes vou acabar à tua porta a desculpar-me com a vontade própria dos meus passos. Fui empurrado para aí e não consigo encontrar uma razão válida para isso. Olhar-me-ás com alguma surpresa e farás a sacramental pergunta misturada com o tempo que passou desde a última vez que dissemos “adeus”. Nessa altura os meus passos estarão muito caladinhos enfiados nos sapatos, como se não existissem. Disfarçam a fingir admirar o teu tapete da entrada. “Vim terminar a despedida” – sai-me pela boca fora como poderia ter saído um comentário acerca do tempo. E tu, recomposta da surpresa inicial, olhar-me-ás com a tua proverbial assertividade e dirás: “Está terminada. Vai-te foder”.
A porta na cara, o patamar da escada vazio, os passos a olhar para mim a pedir instruções…
Um dia destes a vida se encarregará do rumo, domesticando os passos para andarem direitos e mandará o barco para o estaleiro para reparações.

Artur

sexta-feira, 28 de maio de 2010

TRABALHADORES DO COMÉRCIO




DE MANHÁ EU BOU Ó POM

De manhá eu bou ò pom,
A saquinha bai na mom
Bou à loija do Juom
Cu meu are mais mulëngom…
De manhá eu bou ò pom:
A saquinha bai na mom.

De manhá eu bou ò pom
Cu meu are mais mulëngom,
Lebum oilhinda fichado,
Uoutro bai malancurdado.
De manhá eu bou ò pom:
A saquinha bai na mom.

Galgando a iscadaria, ia;
Cantándo a meludia, ia.
E atravesó eistrada
Despois dulhare atênto,
E quando num bem nada,
Eu cruzuasfalto,
E só dum salto, eu entro.

-Bom dia sinhore Juom, beinho buscar o ponzinho!

Descasquei a larainjinha
Cu garfinho e cua faquinha,
Ficou tudimpressionado
Cu meu are benhiducado.
Descasquei a laranjinha
Pruquetou prai birado.

Num gosto que mubriguem, briguem
Astar cum are dalguém, bem.
Mas dá-mum certo gozo
Pasmare o pessuale;
E ponhum are celoso.
Já sei decore
Que ninguém quere o meu male.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

VARIAÇÕES


CANÇÃO DO ENGATE

Tu estás livre e eu estou livre
E há uma noite para passar
Porque não vamos unidos
Porque não vamos ficar
Na aventura dos sentidos

Tu estás só e eu mais só estou
Que tu tens o meu olhar
Tens a minha mão aberta
À espera de se fechar
Nessa tua mão deserta

Vem que o amor
Não é o tempo
Nem é o tempo
Que o faz
Vem que o amor
É o momento
Em que eu me dou
Em que te dás

Tu que buscas companhia
E eu que busco quem quiser
Ser o fim desta energia
Ser um corpo de prazer
Ser o fim de mais um dia

Tu continuas à espera
Do melhor que já não vem
E a esperança foi encontrada
Antes de ti por alguém
E eu sou melhor que nada
Refrão

António Variações

segunda-feira, 17 de maio de 2010

SO LONG




A batida era rouca e repetida circulando o movimento em torno de si próprio. Para cá e para lá, depois para lá e para cá, mas sem sair do lugar. Imaginemos uma cave húmida e um gira-discos que cuspia perdigotos sonoros de vinil por colunas desajustadas, a chuva lá fora e umas luzes que esvoaçavam como morcegos desorientados. Todos tínhamos perdido qualquer coisa, mesmo aqueles que pensavam que não. Todos nos sentíamos injustiçados por isto ou por aquilo. A miúda gira que preferia um foleiro mais velho aos nossos inequívocos (e inexplicados) encantos; a sociedade que não sabia que estávamos ali porque andava demasiado preocupada em navegar os ventos da História; o dinheiro que nunca chegava para a cerveja; o enxerto levado na última sessão de porradaria, sempre por culpa de outros que não nós; os sonhos mortos, um a seguir ao outro; a vida a correr em vez de acontecer; o futuro que não tínhamos; a esperança que não albergávamos. E a raiva era como a voz do cantor, contida e intensa, uma gaita de foles que soprava mais forte que os ventos. A guitarra girava e disparava notas em todas as direcções, para todos os alvos. Adeusinho e até amanhã, venha de lá mais essa cerveja, esse cigarrinho. E os passos dançavam, e os sonhos fugiam e a boazuda ria-se num quarto de pensão manhoso nos braços de um “Toni” de bigode e peúgas brancas. Assim era a metáfora da vida, pelo menos das nossas.
Mas enquanto durava aquele som, havia alguma coisa que fazia sentido. Eram os poucos minutos que ele durava.
Os sonhos perdidos na floresta, a Vida nos braços de um imbecil, os passos sem se mexer, as luzes a esvoaçar como morcegos e...nós. Essa batida rouca, essa oração contida de electricidade. Essa implosão de esperanças e de sonhos, esse primeiro grande arraial de porrada com que a existência nos quis brindar…

Artur

quarta-feira, 12 de maio de 2010

GALLIPOLI


GALLIPOLI

Pete Weir

Austrália, 1981


“They shall grow not old, as we that are left grow old.
Age shall not weary them, nor the years condemn.
At the going down of the Sun and in the morning
We will remember them”

Ode aos veteranos





Considerada um desperdício colossal, desnecessário e absurdo de vidas inocentes, a I Guerra Mundial torna-se uma lição, um marco incontornável da mensagem de aviso que pode ser lida pelas gerações mais jovens. Líderes políticos e cidadãos deveriam estar mais informados e mais atentos aos contornos desta temática, para que no futuro não seja tão fácil e tão leviano decretar o estado de guerra. Filmes sobre o conflito em questão nunca serão demais na medida em que, enquadrando a perspectiva histórica civilizacional, podem desenvolver pedagogicamente os seus conteúdos junto a uma população jovem habituada a fantasias sobre o tema da guerra. GALLIPOLI é um desses exemplos em que a guerra é documentada através do olhar de dois jovens, sem grandes considerações políticas nem delírios filosóficos. Archy (Mark Lee) e Frank (Mel Gibson) são dois corredores rivais nas pistas de atletismo do seu país. Com o eclodir da I Guerra Mundial, a Austrália vê-se envolvida por questões de fidelidade à coroa britânica. Archy, um jovem ingénuo, forte e corajoso, decide oferecer-se como voluntário. Frank, mais cínico e realista, resiste algum tempo à ideia, acabando por imitar o amigo no momento em que percebe que o alistamento lhe pode trazer vantagens. A primeira parte do filme decorre numa Austrália rural, onde Archy tem que apanhar um comboio para se ir alistar a Perth e atravessar o deserto, porque na sua terra natal não o aceitam dado ser menor de idade. A segunda parte do filme consiste na chegada e treino no Egipto do corpo expedicionário ANZAC (Australian New Zealand Army Corps) antes de entrar em acção. Finalmente o filme termina no cenário da batalha de Gallipoli na Turquia, local onde após ferozes combates que se arrastaram por nove meses, as tropas australianas e neo-zelandesas acabaram por retirar sem glória.
O sacrifício dessas mortes foi de tal ordem de grandeza que a partir de 1916, o dia 25 de Abril, “ANZAC’s day”, (data do desembarque em 1915) passou a ser comemorado na Austrália enquanto marco de afirmação nacional e patriótica encabeçado pelos RSL (Returned Serviceman’s League).
Se por um lado a defeituosa preparação da operação, as falhas de comunicação e a incapacidade de alguns aspectos do comando precipitou a tragédia, por outro lado a partir da sua participação na guerra, a jovem nação australiana adquiriu um estatuto de independência e de identidade nacional até aí inexistente. A inocência de um povo que se desloca milhares de quilómetros para combater numa guerra estranha acabou por revelar aspectos chave de uma identidade nacional. O sacrifício de rapazes como Archy, bem como o desperdício desse mesmo sacrifício acabariam por se inscrever no espírito de uma nação. No filme, Weir afasta-se do debate político bem como de considerações acerca do cinismo europeu ao sacrificar a ingenuidade dos seus aliados de além-mar. Por isso, o heroísmo, a camaradagem e o espírito de sacrifício destes jovens podem ser lidos em muitos outros contextos idênticos de guerra, sem que seja necessário proceder a grandes alterações. Alguém escreveu algures que a guerra é o sacrifício dos mais jovens e o egoísmo dos mais velhos…
Ao escolher a campanha de Gallipoli como um dos seus dias de celebração patriótica, a Austrália revela o seu modo de estar e de ser. Não se agradece a quem combateu pela liberdade, pela vitória ou sequer pela afirmação de uma verdade. Relembra-se tão só o significado da guerra para aqueles que nela participaram.

Artur

Mais informações sobre a campanha de Gallipoli podem ser consultadas aqui http://herdeirodeaecio.blogspot.com/2008/12/campanha-de-galpoli.html

terça-feira, 11 de maio de 2010

Ornamenta #198


UMA SIMPLICIDADE ELEGANTE


A MONTH IN THE COUNTRY

Pat O’Connor

Reino Unido (1987)



If I'd stayed there, would I always have been happy? No, I suppose not.
People move away, grow older, die, and the bright belief that there
will be another marvellous thing around each corner fades.
It is now or never; we must snatch at happiness as it flies."

Tom Birkin, A Month in the Country



No Verão de 1920 Tom Brinkin (Colin Firth) é contratado para restaurar um mural medieval descoberto numa igreja rural. Veterano da I Guerra Mundial, começa aos poucos a integrar-se no ritmo lento e na paisagem bucólica, recuperando alguma tranquilidade na pacata aldeia de Oxgodby no condado de Yorkshire. Faz amizade com o arqueólogo James (Keneth Branagh), também veterano de guerra, que procura nas ruínas da igreja antiga uma misteriosa campa.
Baseado no livro de J. L. Carr com o mesmo título, A MONTH IN THE COUNTRY reveste-se de uma magia especial tendo em conta uma série de acontecimentos a ele ligado. Sendo o primeiro filme de Keneth Branagh, de Colin Firth como actor principal, o segundo de Natasha Richardson e o último de David Garth (Brinkin em velho), falecido meses depois das filmagens, o filme conta também com a peripécia de a sua cópia original ter andado perdida durante vários anos. Por outro lado a própria atmosfera do filme reveste-se de uma intemporalidade, de um tempo suspenso onde os personagens se refugiam para se reconstruír antes de decidir novos rumos para o seu caminhos.
Keach, o vigário, é um homem austero e rigoroso no seu papel de pastor da paróquia. Está contra a recuperação do mural alegando que vai distrair a atenção dos paroquianos. Está com o mundo antigo, com o tempo que não muda, como a maioria dos aldeões. Alice (Natasha Richardson), a sua mulher, é demasiado jovem para esse mundo, sentindo-se condicionada e infeliz num espaço onde não se consegue encontrar. A presença de Tom surge como uma esperança, ainda que vaga, de uma vida diferente. Quando está ao pé dele não faz segredo nenhum sobre a sua atracção. Mas mesmo que a sua paixão se venha a concretizar (o que acaba por não acontecer), Alice sabe que não será essa a porta para a sua felicidade. Tom e James são dois estranhos temporariamente colocados numa dimensão que não lhes pertence, num mundo que acabarão por abandonar mais tarde ou mais cedo. A sua inevitável aproximação nos tempos livres, a sua cumplicidade é evidente embora não tão íntima como poderá parecer. Aproveitam as pausas do trabalho para beber chá ou tomar refeições. As suas actividades funcionam enquanto metáforas das suas existências. As camadas de pintura do mural são como as diversas camadas de emoções que se vão revelando na vida de Tom, tanto em relação à sua reestruturação psicológica como à relação com Alice. A realidade arqueológica escavada e trazida à luz do dia acompanha um James ainda emocionalmente perturbado pela guerra, em luta acesa com os seus fantasmas, nomeadamente o da aceitação da sua homossexualidade.
A narrativa decorre neste ambiente aparentemente tranquilo de Verão no campo, onde a impossibilidade do amor e a emocionalidade reprimida condicionam a felicidade dos personagens. Uma espécie de dor persistente atenuada ocasionalmente por pequenas alegrias, pequenos momentos de partilha com “o outro”. Tudo isto nos é apresentado com a elegância da representação dos actores ao denunciarem as suas emoções mais pelas simples expressões do que pelo que dizem. E esta simplicidade elegante de apresentar uma história traz um contentamento mágico em quem a observa.

Artur

quarta-feira, 5 de maio de 2010

AMANHÃ, SE NÃO CHOVER

Amanhã se não chover, talvez eu volte aquele lugar onde se consegue estar meia hora durante uma vida inteira.
Amanhã, se o vento fôr brando e a noite de luar, sou capaz de pisar aquela terra descalço, numa dança de princípio e fim de todas as coisas.
Amanhã, se ainda lá estiveres, dar-te-ei o beijo que ficou por acabar, a conclusão que te devo numa despedida incompleta.
Amanhã, se ainda não fôr tarde, voltarei a ser o universo total que sempre fui apesar de só conseguir usar um décimo de mim na maior parte dos dias.
Amanhã serei mais forte que a montanha porque a subi e desci vezes sem conta até o meu peito querer rebentar e saltar de mim para fora.
Amanhã e todos os dias celebreraremos a eternidade projectada de sonhos para os questionar, voltar a arrumar na realidade.
Ou eles se tornam uteis ou se perdem dentro de nós...e nós dentro deles.

Artur

Ornamenta #195


terça-feira, 4 de maio de 2010